5 de setembro de 2009

Dois minutos e vinte segundos

Abraço solto, meias palavras, despedida no portão. Seguem, cada qual para o seu devido lado, rumos opostos, vidas mais ainda. Sente saudade, não sabe exatamente no que o termo saudade se aplicaria: saudade de quê, de quem, por quê? Soube que ali era o fim, o fim do fim de uma possível reaproximação. Não queria, é verdade, não queria reaproximar-se até bem pouco tempo atrás, mas sentia falta, não sabia do quê.

Mas se encontraram, culpa do destino e de suas armações. Sentiu-se estranha, como se em um instante quisesse novamente a companhia, as conversas, os desabafos, as pequenas discussões, tudo, tudo de volta à sua rotina, que nem rotina era mais. Quando deu por si, estavam se abraçando, tinha esquecido tudo que ocorrera e todas as decepções que tivera. Não tinha importância. Ao menos por dezessete segundos.

De repente, um muro invisível e impossível de ultrapassar caiu entre aquelas duas pessoas, sob a forma de um silêncio interminável de três segundos, tempo no qual o cigarro ainda queimava entre os dedos, pedindo para deixar isso tudo de lado e implorando para ser tragado. Soube, pelo tom de voz, que aquele abraço solto e aquela conversa informal demais eram provavelmente os últimos, mas não sabia se isso era bom ou ruim. Sentiu-se vazia, como se parte de si tivesse sido levada naquele abraço, e provavelmente jogado fora em uma esquina qualquer.

E no fim, sentiu alívio. Um alívio inexplicável, que foi embora somente alguns dias depois. Sabia que não mais se veriam, a menos que o destino resolvesse pregar outra peça. Ao mesmo tempo, sabia também que dificilmente confiará em alguém como confiara nela, assim como era quase impossível apagar as marcas que ela deixou. Seja por saudade, seja por tristeza, seja por decepção.

Mas isso, isso já não importava mais.






P.S.: Lembre-se sempre: liberdade literária. Nunca acredite em tudo que lê.

2 comentários:

Belle disse...

Gostei, é um momento difícil de descrever e acho que tu conseguiu. (não tô falando que aconteceu) Mas ainda acho que um dia as pessoas tem que parar de fumar em textos. fjasdklçfjaskldfa /Q

cintilante disse...

ai.
deu uma tristezazinha aqui em mim lendo isso...

mas acho que para tanto fomos feitos, né? abraços e desilusões. outras quantas constatações que ficam perdidas ali no meio, nas cinzas dos cigarros, nessas leituras repentinas.