13 de julho de 2009

Carta

Oi...

Estou com saudade e resolvi escrever. Afinal, dez meses é muito tempo, tanta coisa aconteceu e eu nem pude te contar... Queria poder conversar, diálogos longos tomando Coca-Cola e comendo doce, mas não dá, não tem como. Nessas horas que algumas letrinhas aqui e ali ajudam. Ou não.

As coisas andaram um tanto complicadas por aqui. Sabe como é, foi uma série de readaptações e remanejos que quase que resultaram em um caos sem fim. Quase. Não foi sem fim, ainda. Não que as coisas estejam perfeitas, perfeitas nunca são, mas a gente tenta, na medida do possível. Terminei a faculdade, foram difíceis os últimos meses, quase que não consegui entregar o trabalho de conclusão, nem sei se tu sabe, mas eu te pedi ajuda. E parece que surtiu efeito. Entreguei com um dia de atraso - normal - perdi um ponto na nota final pela demora. E tirei nove. Nove de um trabalho de conclusão maluco que eu fiz em praticamente uma semana sem dormir e que valia nove. Acho que tu te orgulharia de mim. Espero que sim.

Aí veio a formatura. Nossa, nunca passei tanto calor na vida com aquele babador sufocante amarrado no pescoço. Mas foi bonito, valeu a pena, todo mundo foi, zilhões de fotos que eu queria te mostrar, assim como as da prova de toga que eu quis muito ter te mostrado. Mas não deu tempo.

Enfim. Tive altos e baixos. Ainda nem sei o que vou fazer da vida agora, às vezes acho que é melhor não pensar nisso, às vezes me dá uma agonia imensa de não saber o que fazer. Foi um primeiro semestre meio parado, exceto pelo fato de que eu fui no show do Radiohead em São Paulo. Sim, eles vieram, quase enlouquecemos grudados na grade, na frente de umas trinta mil pessoas. E antes disso fui no R.E.M., mas isso foi em Porto Alegre mesmo, no estádio do São José. Sim! No Zequinha! E lá fiquei na grade também. E parece que faz muito muito muito tempo, mas não faz. Incrível como eu perdi a noção de tempo... Fora os shows, continuei com o inglês e fiz um curso de produção musical, lá na Famecos mesmo, muito bacana. E deu. Basicamente isso.

Antes que tu me pergunte: sim, eu to segurando as pontas por aqui. É pesado, bem pesado às vezes, mas eu me viro. E to tomando conta da mãe, apesar dos problemas que às vezes surgem, e surgiram. Mas né, a gente tenta. E eu sinto muito a tua falta nessas horas também.

Pintei o cabelo de vermelho. Calma, não é vermelho fogo, é um vermelho discretinho, mas que ficou bem bonito, combinou. Acho que tu teria gostado da cor que eu escolhi. Acho mesmo. E ainda penso em fazer alguma tatuagem algum dia, não sei ainda o que, nem aonde. Mas não tenho pressa, nada é sangria desatada no momento.

Eu tinha deixado de fazer planos. Não conseguia. Era involuntário. Já quis matar meio mundo, já briguei com muita gente até pra te defender. Pois é, acontece. Cansei de ter que dar satisfação pra todo mundo, fiquei cansada muitas vezes, mas agora passou. Ao menos por enquanto. Parece que o caos me deixou um pouquinho de lado. Tomara.

É o primeiro ano que no Dia Mundial do Rock eu não tirei com a tua cara, dizendo que tu é o mais roqueiro do mundo - aham, jura - e que eu só tinha que ser assim mesmo. O primeiro aniversário longe. Aliás, duas semanas atrás foi um aniversário bem estranho pra mim também. É tudo muito esquisito, e eu ainda tenho muita coisa pra me adaptar. E isso é bizarro. Tive um dia muito bom hoje, mas foi voltando pra casa sozinha e estando sozinha em casa que me deu vontade de conversar. Ou comer bolinho. Ou ficar debaixo das cobertas, vendo tv e te contando o meu dia, ouvindo o teu. Ou de dizer tudo o que faltou te dizer, que não deu tempo, o quanto eu sempre me orgulhei e me orgulho muito de ser tua filha. Não deu. Nunca gostei de falar essas coisas, e no fim eu mal pude me despedir de ti.

Obrigada por tudo. Pelo que foste pra mim, pelo que sempre vai ser. Desculpa pelas coisas que eu alguma vez te disse e pelo o que eu deixei de dizer também. Eu sei que não adianta muito agora, mas né, as letrinhas aqui e ali me ajudam um pouco. Ou não.

Te amo muito, pai. Sempre.

1 comentários:

Fifiss disse...

Umas quase lágrimas querendo escorrer, fim.