13 de novembro de 2008

Poemas no ônibus II

Aos poucos

Aos poucos,
pelos vãos dos dedos,
pelos nãos dos medos,
pelas mãos dos ledos,
pelos sãos dos credos;

perdemos um pouco
do tudo que temos.

E nos escondemos no sorriso mudo dos profetas,
na esquálida esperança das garrafas vazias.

Porque perdemos tudo:
as praças, as taças e os brinquedos;

assim,
pelos vãos dos dedos.

Marcelo Lopes
(Poemas no Ônibus - 16ª edição)

6 de novembro de 2008

O casal

Ela: Meu Deus! Como assim? Até agora não entendi direito...


Ele: Só quero que tu saiba de uma coisa: eu tô do teu lado. Sem aquelas frescuras de "não conta pra ninguém".

Ela: A gente precisa almoçar junto. Sei lá, fico preocupada, se eu pudesse até passava 24 horas no telefone contigo, mas não dá...

Saem para almoçar. Ela sai para comprar suco de uva no supermercado, uma garrafa, um litro. Ele fica na mesa, pensativo. Ou dormindo.

Ele: A balança final é tua. Bota isso na tua cabeça.

Ela: Pára de paranoidear, tá?

Ele: A solução é passar um dia por semana comigo. (...) Sim, porque eu sou muito mais gostosa do que vocês.

Ele faz cara de mau com batata frita na boca.
Ela aperta o nariz dele, como se fosse um botão, para fazê-lo rir.

Ela: Cara, eu vou seqüestrar o Akita! Mas não vou devolver nunca mais! Vou roubar o Akita, roubar, roubar, ROUBAR!!!

(...)

Ela: Melhor, a gente rouba um ônibus e manda o Akita dirigir. Daí, se a gente não consegue atropelar ninguém, pelo menos se diverte!

Eles fazem planos. Eles pensam em sair.

Ele: Assim, tu quer ir, vai. Mas vai pensando em curtir, não vai esperando um final feliz...

Ela: Eu ia ficar tão feliz se tu fosse junto... E o final feliz é o show, ora!

E eles vão. E o show do R.E.M. é daqui a poucas horas.